SOBRE YOGA, MEDITAÇÃO E CHAKRAS

Todo o poder do Yoga

(reportagem da ISTOÉ  junho 2011)

A técnica ganha o respeito da medicina e é usada para ajudar no tratamento de câncer, obesidade, dor crônica e doenças cardíacas, respiratórias e psiquiátricas

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Nesta semana, o mundo acompanha, como de costume, as novidades divulgadas durante o congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, conhecido como Asco, o maior e mais importante encontro mundial sobre câncer. Neste ano, entre os destaques mostrados no centro de convenções, em Chicago, um, especialmente, chama a atenção não só pela importância de seus resultados como também pelo simbolismo que carrega. Pesquisadores do MD Anderson Cancer Center – uma das principais instituições do planeta para o tratamento da doença – apresentarão um trabalho no qual relatam como a ioga ajuda a tratar o câncer.No estudo, realizado com portadoras de tumor de mama submetidas a sessões de radioterapia, ficou comprovado que o método, além de reduzir os níveis de cortisol (hormônio liberado em situações de estresse), melhora o funcionamento do corpo em geral. Entre outros ganhos, as participantes demonstraram maior capacidade de execução de tarefas cotidianas, mas difíceis de ser efetuadas por causa da doença, como subir escadas ou dar uma volta no quarteirão. Também sentiram menos cansaço, dormiam melhor e ainda encontraram uma forma menos doída de lidar com seu drama particular. “Elas dão mais foco à espiritualidade, na conexão consigo mesmas e com as outras pessoas”, disse à ISTOÉ Lorenzo Cohen, diretor do Programa de Medicina Integrativa do MD Anderson e responsável pela pesquisa. “Dessa maneira, fica mais fácil perceber o que realmente precisam e como alcançar essa meta.”
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HOSPITAL
Na Clínica Mayo (EUA), há aulas para pacientes com insuficiência cardíaca e doenças respiratórias.
A apresentação de uma pesquisa sobre ioga em um evento mundial no qual a tônica, historicamente, sempre foi a divulgação de novidades que giram em torno da medicina tradicional – novos remédios ou aparelhos, por exemplo – é emblemática. O fato é a evidência mais concreta de que a medicina ocidental está incluindo a ioga na sua lista de recursos contra as doenças. Criada há cerca de cinco mil anos no lugar onde hoje é a Índia, a ioga é uma filosofia de vida (leia mais no quadro à pág. 107). Seu princípio fundamental é o de facilitar a conexão do corpo com a mente, entendidos como uma coisa única, indissociável. Não é por outra razão que, em sânscrito, a língua usada em rituais do hinduísmo, a palavra ioga remete ao significado de atrelar. Para que isso seja possível, ela se apoia em recursos como a meditação, a respiração profunda e a execução dos ásanas, posturas corporais inspiradas em animais ou em outras referências da natureza.Depois de desembarcar no Ocidente como mais uma excentricidade do Oriente, a prática hoje ganhou o respeito da ciência e recebeu o direito de entrar pela porta da frente em alguns dos mais renomados serviços de saúde do planeta. O método figura entre as terapias complementares disponíveis no MD Anderson, no Massachusetts General Hospital, em Boston, e no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, por exemplo.
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PRÁTICA
Adepto, o cientista Krystal estuda como o método ajuda a emagrecer.
Na Clínica Mayo, outro respeitado serviço de saúde, localizado também nos EUA, ela é ofertada a portadores de doenças diversas. O pneumologista Roberto Benzo, por exemplo, a aplica no tratamento de insuficiência cardíaca (o coração perde a capacidade de bombear o sangue para o corpo) e de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mal caracterizado pela destruição progressiva dos alvéolos pulmonares. “Os principais benefícios são a redução da dificuldade respiratória e a melhora do condicionamento físico”, explicou Benzo à ISTOÉ.No Brasil, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, um dos mais importantes da rede privada do País, prepara-se para oferecer a prática como mais uma opção de seu departamento de terapias complementares. No Hospital A. C. Camargo, também na capital paulista e especializado no atendimento a pacientes com câncer, aulas de ioga começaram a ser adotadas recentemente. “Elas ocorrem uma vez por semana”, informa a professora Aline Chrispan. “As participantes controlam melhor a ansiedade que aparece durante o tratamento.”O mesmo movimento de incorporação da ioga pela medicina vem sendo registrado nos consultórios. “Indico para alguns pacientes, como os portadores de artrose”, diz o médico Mário Sérgio Rossi, coordenador do comitê de terapias complementares do Hospital Albert Einstein. “A prática ajuda na lubrificação das articulações, sem causar traumatismo”, diz. Doença inflamatória crônica, a artrose se caracteriza pela ocorrência de dor e deformações nas articulações. Por isso, além dos remédios específicos, é importante que os pacientes mantenham a funcionalidade das articulações por meio de exercícios corretos, que não agridam ainda mais essas estruturas. Por isso a ioga, com seus movimentos suaves e alongados, é uma boa opção.
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APOIO
O médico Rossi (à esq.) indica para tratar artrose. À dir. aulas no Hospital A. C. Camargo (SP)
Na clínica do dentista Fausto Ito, especialista em apneia do sono e ronco, do Rio de Janeiro, os pacientes são orientados a praticá-la, de preferência, em ambientes com pouca ou nenhuma iluminação. “A ausência da luz ajuda na produção da melatonina, um indutor natural do sono”, explica. “Os efeitos da ioga são potencializados e o resultado é a melhora na qualidade do sono.”
Uma pesquisa que acaba de ser publicada no Archives of Internal Medicine dá uma ideia da importância que a terapia vem ganhando. De acordo com o trabalho, 30% dos americanos fazem uso do método, assim como de outros do gênero, como acupuntura e meditação. E um em cada 30 pacientes recebeu a recomendação da prática de seus próprios médicos. “Há boas evidências da eficácia dessas técnicas, mas não esperávamos que o índice de aceitação pelos médicos fosse tão alto”, afirmou Aditi Nerurkar, da Harvard Medical School (EUA), autor do levantamento.Ao mesmo tempo que sua indicação se consolida, proliferam pelos centros de pesquisas estudos para investigar o alcance de seus benefícios. Aqui no Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) atestaram o efeito do método contra a hipertensão após a realização de um trabalho que acompanhou executivos com o perfil clássico desses profissionais: estressados, ansiosos e com pressão fora de controle. “Após oito meses, houve mudanças no estilo de vida e resgate da saúde”, contou o médico Fernando Bignardi. “E deixaram de ser hipertensos.”Nos EUA, na Boston University School of Medicine, verificou-se que a ioga apresenta resultados mais eficazes no controle de distúrbios de humor, depressão e ansiedade em comparação a outros exercícios, como a caminhada. “Em exames posteriores à realização dos exercícios, os participantes exibiam taxas mais elevadas do Gaba, uma substância cerebral cujo nível, se estiver baixo, está associado a desequilíbrios de ordem emocional”, disse à ISTOÉ Chris Streeter, professora de psiquiatria e coordenadora do trabalho.
Essa característica – a de ajudar a lidar com os sentimentos – também está fazendo da ioga uma aliada contra a obesidade. É verdade que a própria execução dos exercícios já auxilia na queima de calorias. No entanto, a ciência está constatando que o impacto é mais profundo. Um claro indicativo foi registrado em uma pesquisa da Fred Hutchinson Cancer Research Center (EUA). Os cientistas acompanharam as respostas de mulheres que estavam magras ou com sobrepeso. “Em dez anos, as praticantes ganharam menos peso do que aquelas que não faziam ioga”, explicou à ISTOÉ Alan Krystal, responsável pela pesquisa. “E isso ocorreu independentemente do nível de atividade física e dos padrões de alimentação de cada uma”, disse. Na avaliação do cientista, o que está por trás do resultado é a consciência, despertada pela ioga, do tamanho real do apetite. O método ajuda o indivíduo a perceber por que está comendo e a parar quando satisfeito.De fato, quando usada em doenças permeadas por forte conteúdo emocional – caso da obesidade –, a ioga manifesta uma particular eficácia. Pacientes com fibromialgia, por exemplo, estão entre os mais beneficiados.
A enfermidade manifesta-se pela ocorrência de dor crônica e generalizada pelo corpo. Com o passar do tempo, torna-se um inferno na vida do portador. Debilitado pela dor constante, aos poucos ele se isola, deprime-se.Uma iniciativa da Oregon Health & Science University (EUA) revelou como o método pode ajudar. Foram recrutadas 53 mulheres com fibromialgia. As voluntárias foram avaliadas depois de ser submetidas a um programa de ioga desenhado para suas necessidades – contemplando mais fortemente aspectos como dor, fadiga, problemas com o sono e dificuldades emocionais acarretadas pela doença. Todos os pontos apresentaram melhora. Um deles chamou a atenção. “Elas ficaram mais dispostas para a vida, apesar do sofrimento”, disse James Carson, coordenador do trabalho. “E aprenderam a não dar tanto espaço a tendências ruins, como a de supervalorizar a dor.”
Na opinião de Marcos Rojo, professor e pesquisador da técnica na Universidade de São Paulo, uma das explicações para modificações como essa é justamente o estabelecimento da conexão mente-corpo perseguida pela ioga. “Ela trabalha mecanismos que têm alguma relação um com o outro. Por exemplo, se você passa por um período de muita ansiedade, pode ter alterações no sistema digestivo ou cardiorrespiratório”, diz. “Um dos objetivos da ioga é fazer o caminho inverso: trabalhar o corpo para interferir nas emoções”, afirma.É sabido que a atuação também se dá no nível físico propriamente dito. Um exemplo é o que proporciona no caso da dor. “Quando a pessoa sente o sintoma, se contrai. Com a ioga, aprende a relaxar profundamente”, explica Luciana Brandão, do Estúdio Ioga na Cidade, de São Paulo, e pós-graduanda na Unifesp em terapias complementares. “O sangue circula mais, ajudando a reduzir a sensação”, complementa.No caso das doenças respiratórias, o efeito produzido pelos exercícios de respiração aumenta a eficiência dos músculos que integram o sistema responsável pela oxigenação do organismo. Em uma análise realizada por médicos da Chicago Medical School (EUA), o benefício foi constatado após acompanhamento de 22 pacientes que fizeram aulas de uma hora, três vezes por semana, durante um mês e meio.
Há dois pontos ainda não completamente esclarecidos no que se refere ao uso terapêutico da ioga. O primeiro diz respeito ao formato das aulas. O segundo, à frequência com que devem ser feitas. Em relação ao tipo de aula, a tendência é criá-las para ser mais específicas. Na Escola Narayana, uma das mais tradicionais de São Paulo, os responsáveis recebem alunos interessados no auxílio que a ioga pode trazer para males distintos. “Desenvolvemos aulas de acordo com a questão de saúde de cada um”, afirma Luzia Rodrigues, coordenadora da escola. Quanto à frequência ideal, restam dúvidas. “Ninguém ainda sabe dizer ao certo”, disse à ISTOÉ Brent Bauer, da Clínica Mayo. O médico orienta seus pacientes a praticar pelo menos 30 minutos todos os dias.
Pressão sob controle
Foi um caso grave de aneurisma da aorta, há cinco anos, que fez o compositor e guitarrista Yvo Ursini, 33 anos, repensar sua vida e encontrar a ioga. Embora o problema de saúde lhe imponha algumas limitações – como não realizar exercícios que alterem o fluxo sanguíneo para a cabeça –, ele comemora os avanços. “Melhorei muito minha consciência corporal e minha pressão arterial está mais controlada.”
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Postura contra a dor
Durante uma aula de ioga, é preciso capacidade de alongamento e força nos músculos de todo o corpo. Um dos resultados dessa combinação de esforços é o alívio da dor. “Tenho uma alteração na coluna lombar e a ioga me ajuda a aliviar a tensão que causa dor”, conta a administradora na área médica Carla Hellner, 42 anos.
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Alívio depoisdo câncer
Após a retirada dos seios devido a um câncer, a auxiliar administrativa Adriana Ferreira Lima, 34 anos, encontrou na ioga uma forma de acelerar sua reabilitação. “Faço posturas mais lentas para recuperar a mobilidade do braço e da mão, prejudicados pela cirurgia”, fala. “Comecei há seis meses, mas já sinto que meus movimentos e minha respiração melhoraram.”
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De aluno a professor
Primeiro ele se interessou como aluno. “Procurei a ioga em busca de mais sintonia entre corpo e mente”, conta o professor de educação física Isaías Lemos, 31 anos. Alguns anos depois, contente com os resultados, ele resolveu fazer um curso de especialização. “Acabei trocando a ginástica artística, modalidade da qual era treinador, pela ioga.” Hoje ele dá aula e é referência para os outros professores da modalidade, na academia Bio Ritmo, em São Paulo.
A história da filosofia
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INÍCIO
O deus Shiva teria passado os ensinamentos aos hindus
Uma aura de mistério envolve as origens da ioga. Acredita-se que a filosofia tenha surgido há cerca de cinco mil anos, no território onde atualmente se localiza a Índia. Para os hindus, os ensinamentos foram dados por Shiva – deus da transformação. Durante muitos séculos não houve registro escrito da técnica: os mestres passavam os conhecimentos aos seus discípulos por meio da tradição oral. O primeiro registro data de pouco mais de dois mil anos, com o livro que ficou conhecido como “Yoga Sutra”.
A produção científica em torno do tema é ainda mais recente. Começou na década de 1920, com a criação de um instituto governamental na Índia para pesquisar os efeitos da ioga sobre o corpo. “À época essa iniciativa não foi vista com muita felicidade pelos indianos, pois a eles a tradição bastava, não era necessária a preocupação científica”, diz Marcos Rojo, professor e pesquisador de ioga na Universidade de São Paulo.
Foi, todavia, a busca pelo cientificismo que impulsionou a vinda da prática para o Ocidente. Deste lado do mundo, a ioga ganhou também outros ares, com foco maior na parte física. “A visão original da ioga entende o corpo como um meio para se experimentar sensações importantes para a evolução espiritual”, fala Rojo. A filosofia inclui princípios, como o respeito à natureza, a não violência, o controle dos impulsos e dos sentidos e o desapego de pessoas e objetos. A preocupação com o alinhamento e o tônus muscular – questões relacionadas com a parte física – foram acrescentadas após a ocidentalização da prática.
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Yoga : Na Superinteressante: Com você, o Yoga

Mera ginástica, religião mística ou remédio milagroso? Afinal, o que é essa disciplina indiana de 5 500 anos e o que ela tem a lhe oferecer?
Caco Paula

Empresários, médicos e donas-de-casa dobram, alongam, retorcem seus corpos. Socialites, advogados, vendedores e artistas equilibram-se calmamente de cabeça para baixo, apoiados em tapetinhos de borracha. Crianças, juízes, executivos, gestantes, surfistas e convalescentes sentam-se em postura de lótus, controlam a respiração, entoam mantras. Desde o auge da contracultura nos anos 60 não se vê tanto interesse por yoga nos países ocidentais. Acredita-se que 15 milhões de pessoas incluem alguma forma de yoga em seus exercícios físicos, só nos Estados Unidos. No Brasil, onde ainda não está claro para a maioria das pessoas se yoga é ginástica, remédio ou religião, é mais prudente não arriscar números. É que não há a mais pálida estatística a respeito.

Ninguém precisa saber o que é o yoga, no entanto, para perceber que a prática difunde-se rapidamente. E não só em escolas especializadas, mas também em empresas, clínicas, hospitais e universidades. Yoga é uma das aulas mais procuradas no Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (Cepeusp) e tema de cursos de extensão e de pós-graduação, nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo, por exemplo. A maior visibilidade do yoga, porém, está nas academias de ginástica. Seis das maiores academias do país, localizadas na capital paulista, calculam ter, juntas, aproximadamente 3 000 alunos de yoga. Entre eles, muita gente que chega pensando ter descoberto um jeito de ficar com um corpinho bonito e acaba descobrindo que yoga é bem mais do que isso.

Yoga é algo bem diferente do que o modismo atual faz parecer. Como sempre acontece quando se tenta enxergar uma cultura com os olhos de outra, surgem simplificações e equívocos. De um lado, há quem veja apenas um método terapêutico para aliviar dores nas costas. No extremo oposto, vinga um misticismo cego de quem acredita que vai obter poderes fantásticos com a prática. E a confusão só aumenta. Será que ainda resta algo da antiquíssima disciplina indiana nisso que, para muitos, significa apenas mais uma modalidade de fitness? Afinal, o que é yoga? Funciona mesmo? De que maneira? E para que serve?

O yoga – trata-se de um substantivo masculino, e o mais correto é pronunciá-lo com “o” fechado, como em “ovo”, e escrevê-lo sem acento circunflexo – significa jugo, canga, união. Seu sentido mais comum é unir, religar o ser humano à sua essência. Mas a palavra tem outras acepções, como trabalho, caminho, harmonia, força, poder, atividade, ensinamento, conexão. O termo está presente em cada uma das abordagens espirituais da religião indiana: ritual (carma-yoga), devocional (bhakti-yoga), intelectual (jnana-yoga) ou meditativa (dhyana-yoga). A Bhagavad Gita, grande clássico da literatura indiana, e uma bíblia para os yogues (que vêm a ser, simplesmente, os praticantes de yoga), aponta seis significados para o termo.
José Hermógenes, um dos responsáveis pela difusão do yoga no Brasil nos últimos 40 anos e autor do livro Autoperfeição com Hata Yoga, hoje na sua quadragésima edição, cita as definições expressas na Gita: equanimidade na vitória e na derrota; habilidade e eficiência na ação; o supremo segredo da vida; aquilo que gera indizível felicidade; serenidade; e o que extingue a dor.

Yoga, portanto, é uma disciplina que abrange todos esses significados. E é com essas características que ele compõem um dos seis sistemas ortodoxos da filosofia indiana. Nessa organização, o yoga é complementar a outra escola, o samkhya. Enquanto o samkhya trata da metafísica, da relação entre matéria e espírito, o yoga trata da relação entre a mente e o corpo. E por isso é essencialmente prático. Não há estudos conclusivos sobre quando o yoga foi criado. Especula-se que a doutrina fazia parte da antiga civilização do Vale do Indo (3500 a 2000 a.C.). O certo é que já existia séculos antes de ser compilado no Yoga Sutra, um conjunto de 196 aforismos, atribuídos ao sábio indiano Patañjali, que os teria escrito em alguma data entre 400 e 200 a.C.

É essa a base do Raja Yoga, ou Yoga Real, cujo objetivo final é nada menos do que a “dissolução no absoluto”. Patañjali afirma que yoga é a “cessação dos turbilhões da mente” (em sânscrito: yoga citta vrtti nirodha). Mas o que se ganha, afinal, aquietando a mente? Pode parecer óbvio, mas não é. Para entender isso, deve-se considerar que a cultura indiana vê o homem como um todo no qual se expressam simultaneamente a consciência, o intelecto, o ego, a mente, o sistema sensorial e o corpo físico. “A idéia é isolar o excesso de visão mental, intelectual e do ego para despertar a consciência no corpo todo”, explica o médico César Deveza, especialista em medicina ayurvédica e autor de uma tese de mestrado na USP sobre o tema.

Quer um exemplo de consciência corporal? Ao longo das páginas dessa reportagem você vê a professora de yoga Renata Fadul (que usa o cabelo com rabo de cavalo) e a praticante Ana Paula Brasaglia (de coque) em diversas posturas. São os chamados ásana, posições corporais cujo objetivo é desviar a atenção da mente para uma percepção sensorial mais ampla. De acordo com o que se acredita no sistema de yoga, durante os estados normais de consciência, os pensamentos manifestam-se em fluxos contínuos e têm efeitos concretos no corpo. A sensação de medo, por exemplo, pode se traduzir em tensão muscular. A ansiedade torna a respiração sôfrega. Sustos desestabilizam a pressão arterial. A idéia central do yoga é perceber que a recíproca é verdadeira. Ou seja: mente superficial e agitada produz respiração igualmente superficial e agitada. Aquietando e aprofundando a respiração aquieta-se e aprofunda-se a mente.

E mais: se a mente ansiosa é capaz de tensionar um músculo, o alongamento muscular é capaz de distensionar a mente. Eis aí a tal consciência do corpo.
Admitir esse raciocínio é admitir que o yoga funciona. E perceber que ele é na verdade um método empírico que traz resultados rápidos. Não se trata de um domínio excessivamente transcendental e de difícil assimilação para criaturas geradas numa cultura cartesiana e cientificista como eu e você. Basta perguntar para uma daquelas pessoas tranqüilas e sorridentes na saída de uma aula o que o yoga mudou em suas vidas. Você ouvirá gente dizendo que teve melhoras no sono, na flexibilidade muscular, na digestão, no controle da ansiedade. Marcos Rojo, professor de Educação Física da USP e coordenador do Curso de Pós-Graduação em Yoga da FMU, relata casos de atletas treinados por ele que tiveram significativos progressos em concentração (no caso de tenistas) e na respiração (alpinistas que despendem grandes esforços em altitudes onde o ar é rarefeito).

Mas não é preciso ter corpo de atleta para experimentar os benefícios do yoga. Veja o caso dos pacientes da médica Maria Auxiliadora Craice, do Hospital Heliópolis, em São Paulo. São geralmente vítimas de câncer de reto que tiveram sua função de evacuação transferida para uma alça de intestino presa na parede abdominal, conectada a uma bolsa externa. “Nesse caso, o yoga proporciona uma melhora geral, tanto no aspecto físico quanto emocional”, diz a médica. “Usamos uddiyana-bhanda (técnica que permite dilatar o tórax sem deixar entrar ar, criando assim uma pressão negativa). Os pacientes sentem-se mais seguros e à vontade com sua nova condição física.” Hoje, muitos deles não só conseguem ficar de barriga para baixo – posição considerada difícil para quem passa por esse tipo de cirurgia – como são capazes até de executar posturas mais complicadas, como ficar de cabeça para baixo.
O yoga também é praticado por pessoas que não têm qualquer necessidade específica a satisfazer. Gente que não é atleta nem um paciente em recuperação. E que traz o yoga para sua vida pelos benefícios que a doutrina pode trazer. Agora, pasme: por paradoxal que isso possa ser, a qualidade de vida não é o verdadeiro objetivo da prática. “O yoga não foi desenvolvido para um público que procurava apenas saúde ou bem-estar”, explica o médico Deveza. Segundo ele, os antigos yogues que viviam em florestas e cavernas tinham uma meta muito mais alta: transcender a existência humana. “A saúde era mera conseqüência.” A respiração dos yogues, segundo Deveza, precisava ser perfeita. Seus movimentos musculares, livres de contraturas. E o pensamento tinha que estar totalmente sob seu controle. Ou seja: o que a experiência dos yogues indianos deixa transparecer, assim como o que sempre se afirma nos principais textos desse sistema, é que os exercícios práticos servem mesmo é como preparação à meditação.

“Yoga sem meditação não é yoga”, diz Pedro Kupfer, escalador de rochas, surfista e um dos principais formadores de professores de yoga no país, a partir de sua academia, em Florianópolis. “Minhas aulas nunca têm hora para acabar, já que depois dos exercícios fazemos pelo menos 40 minutos de meditação”. Esta talvez seja a principal diferença entre a idéia que se faz de yoga em muitas academias e a forma como ela é encarada pelos praticantes mais ligados às tradições indianas. Para estes, fiéis ao Yoga Sutra de Patañjali, posturas corporais e exercícios respiratórios são apenas dois dos aspectos mais conhecidos de um sistema que possui oito etapas (ou ashtanga). Esse sistema inclui desde a disciplina moral até a absorção meditativa (veja quadro na página 56). À primeira vista parece ser algo muito complicado. Mas os praticantes mais experimentados tentam dar exemplos de que todos esses preceitos éticos têm aplicações muito práticas, até mesmo quando se faz os exercícios.
A não-violência, por exemplo, é sempre lembrada pelos professores como algo que deve-se observar durante os ásana, evitando forçar perigosamente o próprio corpo. Outro exemplo: não mentir ajuda a manter a mente calma – pois não será necessário lembrar-se da mentira mais tarde, para evitar ser pego em contradição.

Bem, você já faz uma boa idéia do que seja o yoga. Agora, como é que ele funciona? De que jeito ele opera a sua mágica? Essa explicação não é simples. Organicamente, as técnicas do yoga têm efeito em duas situações: no alongamento e nas modificações das pressões internas. No aspecto físico, além dos ásana (posturas) e pranáiamas (controle dos ciclos respiratórios), existem bandhas (contrações e retenções) e kryas (purificações). Já os mudrás (gestos arquetípicos aos quais se atribui a realização de determinados estados de consciência) teriam efeitos mais psicológicos ou sutis. Sob o ponto de vista fisiológico, os ásana trabalham com receptores proprioreceptivos – partes do sistema nervoso cuja estimulação se origina geralmente na própria atividade do órgão que os contém. Em geral esses receptores estão localizados em articulações, tendões e músculos.
Veja o caso dos ásana de postura invertida, aqueles em que o praticante fica de cabeça para baixo. Toda a fisiologia humana está adaptada a um sistema que depende do corpo estar em seu estado normal, com a cabeça voltada para cima. Quando se pratica qualquer uma dessas posturas, mesmo que por um segundo, o organismo tem de se adaptar. Isso lança desafios para o corpo. Na chamada vrschikásana, ou postura do escorpião, por exemplo (foto ao lado), observam-se vários níveis de reação: no mais superficial, facilita o retorno venoso dos membros inferiores, com benefícios para o sistema circulatório. Em um nível mais sutil, há uma alteração na fisiologia que exige grande atenção do sistema nervoso central. Todos os receptores são estimulados ao mesmo tempo e têm de se adaptar ao fato de o corpo estar de cabeça para baixo. Essa informação acionaria vários receptores neurológicos e contribuiria para despertar uma consciência corporal que suplantaria aquela tradicional, centrada na mente.

Segundo toda a compreensão do yoga clássico e de seus principais tratados, mais importante do que os estímulos físicos é a atenção do praticante ao que está acontecendo com seu corpo. Isso faria diminuir o foco excessivo que os ocidentais costumam ter nos processos mentais. Ora, mas quem puxa ferro em uma academia também não está movendo sua atenção para o corpo? “Sim, mas a ginástica trabalha tensões. O yoga, distensões”, observa o médico Deveza.
Os chamados bandhas (retenções e contrações, sobretudo musculares) que a médica Auxiliadora recomenda a seus pacientes, produzem, segundo ela, pressões negativas onde, em geral, se têm pressões positivas. O uddiyana-bhanda, por exemplo, consiste em massagear os órgãos internos, com uma espécie de sucção. Na sua execução, pressiona-se a parede abdominal contra a coluna vertebral, elevando o diafragma.

“Os resultados são evidentes: maior retorno venoso para as câmaras cardíacas e oxigenação dos alvéolos geralmente não utilizados na respiração de base”, explica o médico Deveza. Assim talvez fique mais fácil para nós, ocidentais, entendermos um exercício que foi desenvolvido por praticantes que certamente não pensavam em termos de “câmaras cardíacas” ou “retorno venoso”. Para a cultura indiana, o corpo funciona como um receptor de energia cósmica (prana). A recepção dessa energia seria feita através dos chákras. Também conhecidos como padma ou lótus, os chákras são descritos como centros de captação, armazenamento e distribuição de prana. Assim, toda essa descrição médica faz tanto sentido para os yogues quanto faria, para nós, a linguagem simbólica que usam para descrever o mesmo uddiyana-bhanda: “Grandes pássaros, ou alentos vitais, em vôo ascendente rumo ao lótus das mil pétalas ou chacra da coroa.”

Deu para perceber o fosso que existe entre as duas culturas na hora de descrever o funcionamento do corpo? Por isso, é bom evitar o que fazem muitos livros, tanto ocidentais quanto indianos, que tentam estabelecer uma relação direta entre exercícios de yoga e a capacidade de interferir no sistema nervoso autônomo. Pelo menos até que surjam pesquisas detalhadas a respeito. O mesmo vale para a insistência com que se busca um paralelismo entre o sistema endocrinológico e os chakras É importante observar como a prática traz resultados, ainda que as explicações exatas sobre o funcionamento do yoga nem sempre sejam tangíveis. Ignorando seus processos internos, o homem moderno identifica-se o tempo todo com as condições externas e sofre por concentrar-se demasiadamente na racionalização – o oposto do que propõe o yoga, com sua idéia da consciência no corpo todo.

Ainda confunde-se yoga com “fazer yoga”, como se fosse uma aula de musculação. “Tem muita gente fazendo ginástica e pensando que é yoga”, alerta Hermógenes, um dos precursores do yoga no Brasil. Na verdade, pode-se estudar yoga mais objetivamente em um determinado horário, mas a prática só faz sentido quando incorporada ao cotidiano. Isso tem muito a ver com a capacidade de transformar emoções, evitando os automatismos que tendem a fazer com que a reação à raiva seja mais raiva, que medo gere mais medo e assim por diante. Yoga verdadeiro é praticado 24 horas por dia. Deve fazer parte do trabalho, onde, diante de um problema tem-se a certeza de que será melhor resolvê-lo com a mente calma e observação serena do que espalhando ansiedade entre os colegas. Na escola, aproveitando os recursos de concentração. Nas relações pessoais, domando o próprio ego e procurando entender as razões do outro. E até – por que não? – no engarrafamento de trânsito.
Sim, eis aí uma ótima oportunidade de perceber que a mente tende a se identificar com o caos instalado pela imagem de carros parados, sons das buzinas e idéia de tempo perdido. Yoga, nesse caso, é perceber que a mente não precisa se transformar naquilo que ela observa. E que, se o engarrafamento é inevitável, não há nenhum motivo para que você, além de atrasado, chegue irritado ao seu destino.

Saiba mais
Na livraria:
Autoperfeição com Hata Yoga, José Hermógenes Record/Nova Era, 21-585-2000
Filosofias da Índia, Heinrich Zimmer Palas Athena, 11-3266-6188
Iniciação ao Yoga, José Hermógenes Record/Nova Era, 21-21-585-2000
A Luz da Ioga, B. K. S. Iyengar Cultrix, 11-272-1399
Técnicas de Yoga, M. L. Gharote Phorte, 11-279-2793
Yoga, Imortalidade e Liberdade, Mircea Eliade Palas Athena, 11-3266-6188
Yoga Prático, Pedro Kupfer Fundação Dharma, 48-222-5534

Na internet
www.yoga.pro.br
www.palasathena.org
www.profhermogenes.com.br

Embora mais conhecido pelas posturas corporais e pelos exercícios respiratórios, o yoga tem oito preceitos básicos. O objetivo de todos eles é purificar a mente para a absorção meditativa

O yoga tem oito estágios. Juntos, eles compõem os oito “membros” do sistema, ou ashtanga. Os cinco primeiros purificam e sublimam a mente, como preparação para os estágios superiores do Raja Yoga, ou Yoga Real, cuja meta é a meditação e a união com o absoluto.

Yama — Refreamentos: jamais causar dor a nenhuma criatura, não mentir, não roubar, não ser escravo dos impulsos sexuais, renunciar à possessividade.

Niyama — Autopurificação: pureza corporal e mental, contentamento, controle dos desejos egocêntricos, estudo da metafísica do Yoga e práticas devocionais.

Ásana — Postura adequada à meditação. Deve ser estável e confortável. Seu objetivo é dar firme estabilidade ao corpo e reduzir ao mínimo o esforço físico.

Pranáiama — Controle e expansão do ritmo respiratório. O domínio do alento ou bioenergia (prana) resulta de exercícios que harmonizam a inspiração (puraka), a expiração (rechaka) e a retenção (kumbhaka) do ar.

Pratiahára — Emancipação da mente do domínio dos sentidos e de objetos exteriores. “Quando os sentidos já não estão em contato com seus próprios objetos e assumem a natureza da consciência, isto é pratiahára”, afirma o Yoga Sutra.

Dharaná — Concentração em um só ponto, que pode ser um símbolo (yantra), um diagrama geométrico (mandala), uma vocalização (mantra) ou um ritmo corporal.

Dhyana — Meditação. Técnica para deter as turbulências da consciência, saturando-a na contemplação de um objeto até que se possa observar a própria consciência.

Samadhi — Iluminação. Estado e supraconsciência alcançado através da meditação profunda, quando o meditante torna-se uno com o objeto de sua meditação.

Namaste _/\_

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Meditação é o remédio

revistaepoca.globo.com

Médicos e praticantes contam como a meditação pode ajudar a prevenir doenças e até curar outras através do treinamento mental – isso porque essa técnica provoca mudanças fisiológicas no organismo

LAURA LOPES

Um dos grupos de idosos de uma UBS em SP: eles aprendem técnicas de relaxamento, concentração e meditação

“Meditar é a mesma coisa que ir a um spa e ficar relaxando”. Se você pensa assim, não está distante do senso comum, mas pode estar perdendo a oportunidade de experimentar os benefícios da meditação. Técnica tradicional no Oriente, a meditação é objeto de estudo entre especialistas ocidentais há décadas. Aos poucos, vem ganhando adeptos no Brasil e seus benefícios já são detectados até mesmo em experiências clínicas.

Ricardo Zanardi Ramalho é médico da família e clínico geral em São Paulo. Há seis meses, vem aplicando, em Unidades Básicas de Saúde da cidade, técnicas de meditação para grupos da terceira idade, dependentes químicos e pessoas com transtorno de ansiedade, depressão e estresse. Alongamentos, exercícios leves, e de concentração e respiração completam o tratamento. Os resultados ainda não são rigorosamente científicos, mas Ramalho conta que, ao fim da prática, os pacientes apresentavam melhorias: muitos tinham a pressão arterial reduzida, alguns portadores de distúrbios do sono relataram grande melhora e deixaram de usar medicações controladas. “A meditação exige esforço, empenho, é um processo ativo”, diz Ramalho. “Ela envolve desenvolvimento cerebral e provoca mudanças estruturais no cérebro”.

Essas mudanças observadas pelo médico vêm sendo detectadas em estudos científicos há várias décadas. Desde meados dos anos 1970, o médico Herbert Benson publica livros e artigos científicos sobre o tema. Hoje, além de professor da Faculdade de Medicina de Harvard, é diretor do Instituto Benson-Henri (BHI), do Hospital Geral de Massachusetts, que investiga a interação mente/corpo por meio de preceitos da medicina, ou o que ele chama de relaxation response (resposta de relaxamento). Benson, sua equipe e inúmeros cientistas mundo afora já conseguiram provar que meditar diminui o metabolismo, os batimentos cardíacos e o ritmo da respiração, provoca relaxamento muscular e sensação de bem-estar, reduz a pressão sanguínea e aumenta a temperatura corporal periférica. Este último reflexo, dizem os especialistas, seria a razão de os monges budistas não sentirem frio mesmo em baixas temperaturas.

Você pensa que meditar é fácil?

Na população em geral, principalmente no Ocidente, onde desde cedo as pessoas têm seus cérebros treinados a serem hiperativos e muito mais focados nos aspectos externos do que internos, este treinamento pode gerar um certo desconforto, ansiedade e fazê-la desistir antes mesmo que possa alcançar os benefícios iniciais (que são muitos) e conhecer de fato o processo. É como um macaco que pula de galho em galho e fica extremamente irritado quando necessita fixar-se a um mesmo galho por um longo período de tempo.

O aviso é do médico Ricardo Zanardi Ramalho. No começo, ficar na mesma posição durante muito tempo causa dores. Além disso, a concentração profunda exige muito esforço e dedicação. Alguém já tentou se concentrar em sua própria respiração e no funcionamento do seu organismo, sem pensar em mais nada? Esta repórter tentou várias vezes durante a apuração da reportagem e, das duas, uma: ou relaxava tanto que adormecia ou se pegava pensando em milhões de coisas ao mesmo tempo, sem nem perceber em como os pensamentos tinham ido da concentração aos problemas que perturbam diariamente…

A ciência provou até que quem medita por um longo período pode sentir menos dor do que aqueles que não meditam. Um grupo da Universidade de Montreal publicou um trabalho, há quatro meses, mostrando por meio de imagens de ressonância magnética, como o cérebro de quem medita reage a estímulos de dor. Embora o praticante conheça a dor, ela não é processada na parte do cérebro responsável por avaliar, raciocinar e memorizar informações. “Achamos que [quem medita] sente as sensações, mas encurta o processo, impedindo a interpretação dos estímulos dolorosos”, diz o principal autor do trabalho, Pierre Rainville. É como se quem medita desligasse certas áreas do cérebro receptivas da dor, mesmo experimentando-a.

O monge Bhante Yogavacara Rahula em visita ao Brasil:

Para os budistas, há uma fórmula subjetiva para essa explicação científica da dor. Em recente visita ao Brasil, na qual palestrou sobre meditação para especialistas e leigos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, uma das mais respeitados do país, o monge Bhante Yogavacara Rahula, do monastério Bhavana Forest, nos Estados Unidos, explicou que sofrimento = dor x resistência. A fórmula significa que quanto mais resistência você oferece à dor, mais você se apega a ela, causando mais sofrimento. Em caso de resistência zero, o sofrimento decorrente da dor é nulo. Uma mente bem treinada faz com que você não dê tanto peso às intempéries, e isso o afasta daquilo que é ruim. “O segredo é não lutar contra as realidades da vida, contra a impermanência”, afirma Rahula. “Dor é dada, sofrimento é opcional”, diz.

Rafael Ortiz, ortopedista do Hospital das Clínicas, explica. “Toda experiência cognitiva surge por um tempo e desaparece. Só que as nossas lembranças fazem com que o Sistema Nervoso Central continue reverberando aquela sensação já experimentada por meio de estímulos nervosos”, afirma. Por exemplo: se você estiver de olhos fechados e sentir algo tocando sua bochecha, pode concluir várias coisas. Se acontecer no meio de uma floresta, e sentir medo, pode achar que é uma aranha. Se estiver com o namorado, que se trata da mão dele. “A experiência adquirida muda como você interpreta as sensações”, diz. A intenção da meditação é fazer com que as pessoas se desapeguem dessas memórias e, com isso, consigam se livrar da dor rapidamente.

Ortiz começou a meditar há nove anos mais por uma busca existencial do que por problemas de saúde. Hoje diz que os benefícios da meditação Vipassana – a que ele pratica e uma das várias técnicas existentes – são inúmeros. Antes, o médico tinha muita dificuldade para respirar com o nariz por conta de uma má formação do palato e por crises de rinite – agora não mais. Ele também sofria de asma e tomava muitos remédios, abandonados atualmente. Quando criança, era avaliado como se tivesse transtorno de déficit de atenção. “Eu me tornei uma pessoa mais calma nos últimos anos. E, sem dúvida, tem a ver com a meditação”, afirma. Segundo Ortiz, as pessoas confundem felicidade com excitação. Depois da meditação, ele descobriu que a felicidade está ligada à paz e à tranquilidade.

O médico Rafael Ortiz curou seus problemas respiratórios, e sente-se mais calmo e preparado para lidar com dificuldades

A hoje empresária chocolatier Cintia Sanches Lima era executiva de marketing de uma multinacional antes de descobrir o que diz serem os benefícios da meditação. Por estresse e desconforto físico, teve duas infecções respiratórias fortes, que a obrigavam a dormir apenas três horas por noite. Resolveu pedir demissão. “A meditação foi uma surpresa pra mim”, diz, sobre seu primeiro contato com esta técnica milenar: uma reportagem de TV. Ela viajou para o Nepal e passou 45 dias em um monastério para aprender técnicas de meditação. Hoje pratica todos os dias e há mais de um ano não tem mais crises respiratórias. “Minha saúde melhorou muito. Se começa um resfriado, eu sinto bem no começo, muito antes de se manifestar, e passo a me cuidar melhor”, afirma. Além da saúde, Cintia percebeu uma mudança em seu comportamento. “Eu comecei a pensar melhor, a mente fica clara e aberta. Também ajuda na criatividade”, afirma. Segundo ela, foi assim que conseguiu empreender, com sucesso, seu próprio negócio. Mas ela avisa: a meditação não é um remédio que começa a fazer efeito rapidamente. “Você continua com os problemas, mas sabe lidar melhor com eles. São ferramentas que ajudam no seu controle mental”, diz.

No budismo, a sensação de paz interior tem a ver com a clareza mental que a técnica permite aos praticantes. Segundo os ensinamentos de Buda, o sofrimento humano é decorrência de um tripé: cobiça (desejar além do necessário para satisfazer prazeres e vícios), raiva (o apego estimula a raiva, a vingança e a violência) e ignorância (não conhecer a interação corpo/mente). Desapegado desses sentimentos, prossegue a teoria, o homem consegue manter um afastamento sadio das situações para tomar atitudes mais bem pensadas, justas. A meditação, por meio de transformações fisiológicas, teria a função de fazer com que o praticante alcance uma capacidade cognitiva acima da média e experimente a vida com menos agressividade, com menor resposta ao estresse.

A meditação pode ser usada no combate a:

• hipertensão;
• doenças ligadas ao estresse;
• depressão, ansiedade e raiva excessiva;
• insônia;
• infertilidade;
• artrite;
• irregularidades nos batimentos cardíacos;
• no tratamento da dor em doenças crônicas,
• e para melhorar o sistema imunológico.

Em casos em que não a doença não pode ser curada, a meditação pode ser usada como recurso terapêutico a quem não responde bem a tratamentos convencionais, ou em conjunto com eles.

A calma produzida pela meditação foi explicada cientificamente em 2009, por pesquisadores ligados ao Hospital Geral de Massachusetts. Eles analisaram a densidade da massa cinzenta em uma área do cérebro chamada amígdala (que nada tem a ver com a amígdala da garganta), reguladora da resposta ao estresse, como liberação de hormônios, aumento da pressão sanguínea e expressão facial de medo. Os participantes relataram altos níveis de estresse no mês anterior ao experimento. Depois de oito semanas de práticas como meditação, yoga e vivências em grupo, todos os participantes relataram uma significante redução do estresse. E, quanto maior a diminuição do estresse experimentada, maior a diminuição da densidade da amígdala direita. Isso significa, também, que essa parte do cérebro modela o comportamento inicial de percepção automática do estresse (como xingar o motorista do carro da frente que te deu uma fechada). Se a densidade da amígdala diminui, esse tipo de resposta ao estresse será menos frequente.

Foi por isso que Natália Parizotto, pesquisadora e estudante de Serviço Social, começou a meditar há três anos. “Para parar de chorar e brigar, melhorar o relacionamento com as outras pessoas. Eu reagia de uma forma que não era devida”, diz. Hoje ela consegue ter controle sobre suas reações, pensa melhor antes de agir – ou seja, não tem mais um comportamento automático frente aos estímulos de estresse. “Eu consigo fazer atividades mais chatas e dou menos peso (a elas). Eu diferencio o que é a coisa em si do meu estado de espírito”, diz. Mas essa tranquilidade em tomar decisões diminui quando ela fica muito tempo sem meditar –Natália relata que perde a paciência mais facilmente e volta a ter um pouco do comportamento explosivo anterior.

Andreza deixou a carreira administrativa e hoje estuda terapias holísticas depois de se livrar da síndrome do pânico com a ajuda da meditação

Esse processo também é explicado pela ciência. Em janeiro deste ano, pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison publicaram um artigo dizendo que a resposta automática ao estresse até então conhecida – aquela que aumenta os níveis de adrenalina, faz você correr ou gritar em situações de perigo, o chamado “instinto de sobrevivência” – confunde o cérebro. Essa resposta pode romper com a habilidade de pensar claramente e tomar decisões complexas. Já o praticante de meditação fica menos alerta diante de um estímulo de estresse, mas com maior capacidade de tomar decisões estratégicas.

Obviamente essas mudanças nas tomadas de decisões surtem efeitos sobre o estado psicológico do indivíduo. Segundo um trabalho do Centro de Dependência e Saúde Mental (CAMH), no Canadá, publicado no Archives of General Psychiatry em dezembro de 2010, a meditação oferece a mesma proteção que antidepressivos contra recaídas. Durante 18 meses após uma crise e posterior melhora, pacientes que foram tratados com remédios tiveram o mesmo índice de recaída que aqueles tratados apenas com meditação. Há, nessa descoberta, duas boas notícias: 1) os pacientes costumam parar de tomar remédios por conta dos efeitos colaterais, mas ninguém para de meditar, e, 2) meditar não gera despesa financeira.

Foi com meditação que a terapeuta Andreza Gonçalves de Oliveira conseguiu sair de um quadro de depressão que envolvia síndrome do pânico. Ela trabalhava em uma multinacional e adoeceu, tamanha era a pressão cotidiana. Largou a área administrativa há um ano e meio, e, em 2010, passou a se dedicar à meditação e ao estudo de terapias holísticas. Foi nessa época que desistiu de buscar ajuda médica e psicológica para os sintomas do pânico. “Você simplesmente não aceita sua condição quando entra em depressão. Com a meditação, a sua mente vai se aquietando e passa a observar melhor a realidade”, afirma. Foi então que ela percebeu que estava doente e que tinha que se cuidar. Os 10 dias em um retiro “me libertaram dos sentimentos que eu tinha de apego pelas coisas, de medo, de raiva, sentimentos guardados durante muitos e muitos anos”, afirma. Foi o fim do problema psiquiátrico e das visitas assíduas a médicos, e um novo recomeço.

Algumas descobertas científicas sobre a meditação:

• 2002: um grupo de cientistas ligado à Faculdade de Medicina de Harvard provaram que a resposta de relaxamento (RR) melhora a memória de idosos saudáveis, de forma mais efetiva quando eles realizam tarefas simples de atenção. Já os estados de ansiedade diminuem de forma marginal.

• 2003: pela primeira vez, cientistas relataram aumento do número de anticorposem pessoas que meditaram durante oito semanas após serem vacinados contra a gripe, em relação ao grupo controle. A descoberta foi feita por um grupo liderado por Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin.

A espessura da ínsula (verde) e o córtex pré-frontral cerebral em quem medita é mais grossa

• 2005: em dezembro, Sara Lazar, do Hospital Geral de Massachusetts, conseguiu mostrar, através de imagens de ressonância magnética, que a meditação aumenta a espessura do córtex pré-frontral cerebral – região associada ao planejamento de comportamentos cognitivos complexos. A espessura da ínsula direita – ligada às sensações corporais e às emoções – também se mostrou mais grossa em praticantes de RR em relação ao grupo de controle. Foi a primeira evidência de que a meditação está associada a as alterações na estrutura do cérebro.

• 2008: estudo publicado em julho pelo BHI mostrou, pela primeira vez, que a RR produz uma mudança no padrão de ativação dos genes – e maior ela é quanto mais tempo a meditação é praticada. O mesmo trabalho mostrou que os praticantes tiverammenos danos fisiológicos celulares ligados ao estresse do que o grupo de controle.

• 2009: a amígdala direita é responsável pela resposta automática ao estresse: produz hormônios, aumenta os batimentos cardíacos… cientistas ligados ao Hospital Geral de Massachusetts descobriram que, depois de oito semanas de prática de meditação, houve redução da densidade da massa cinzenta da amígdala dos participantes. Quanto menos relatavam estresse, maior a redução.

• 2009: pesquisadores do Centro Médico de Pesquisa Avançada em Yoga e Neurofisiologia, na Índia, descobriram que praticar meditação cíclica duas vezes ao diamelhora a qualidade objetiva e subjetiva do sono na noite seguinte. Meditação cíclica é uma técnica que combina posturas de yoga intercaladas com repouso.

• 2010: em junho, um grupo da Universidade do Estado da Flórida publicou estudo mostrando que o treinamento mental reduz significativamente o estresse e a supressão do pensamento e aumenta a recuperação fisiológica de alterações relacionadas ao alcoolismo. Dessa maneira, a meditação atinge os principais mecanismos ligados à dependência alcoólica e pode ser um tratamento alternativo para prevenir recaídas entre os mais vulneráveis.

• 2010: um grupo ligado ao BHI, liderado por Marlene Samuelson, provou que mulheres brancas submetidas a um programa de 2,5 horas semanais de práticas mente/corpo durante 12 semanas tiveram uma significativa redução na frequência de 12 queixas cotidianas, como dor de cabeça, confusão visual, tontura, náusea, prisão de ventre, diarréia, dor abdominal, dor nas costas, dor no peito, papitações, insônia e fadiga.

• 2010: em dezembro, um grupo da Universidade de Montreal descobriu por que quem medita sente menos dor. Essas pessoas têm a capacidade de desligar algumas áreas cerebrais responsáveis pela sensação da dor, mesmo experimentando-a. Dois grupos, um de controle outro de pessoas que meditavam, fora submetidos a estímulos de dor. Os que meditavam tiveram respostas menores para a dor, bem como um funcionamento menor das áreas do cérebro responsáveis pela cognição, emoção e memória. Eles sentiam dor, mas cortavam o processo rapidamente, refreando a interpretação que o cérebro tinha desse estímulo.

• 2010: em dezembro, um grupo do Centro de Dependência e Saúde Mental (CAMH), no Canadá, publicou um estudo provando que a meditação tem o mesmo efeito protetor que os remédios contra recaídas em pessoas com depressão.

2010: estudo da Universidade da Pennsylvania mostrou melhora na função neuropsicológica e aumentos significativos no fluxo sangüíneo cerebral em indivíduos com perda de memória submetidos a um programa de meditação de oito semanas.

• 2011: ao passo que a meditação faz diminuir a densidade de massa cinzenta da amígdala, ela aumenta a densidade de uma região do cérebro chamada hipocampo, responsável pelo aprendizado e memória, e associada ao bem-estar, compaixão e introspecção. Foi o que descobriu um grupo do Hospital Geral de Massachussets, que publicou o estudo em janeiro na Psychiatry Research: Neuroimaging.

• 2011: pesquisadores da Universidade da Cidade de Nova York publicaram em fevereiro um trabalho que mostra a meditação pode ser útil na redução da ansiedade. Os participantes relataram que se sentiram mais calmos, relaxados, equilibrados e centrados após um mês de prática.

Om Shanti (Paz)

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Segredos dos chakras

Por: Dra. Susan Andrews

O que se ensina normalmente é que eles estão relacionados às glândulas endócrinas, mas talvez você ainda não tenha ouvido muito sobre as chamadas “pétalas” doschakras. Leia as revelações.

Ilustrações: Pat Lobo

Há um crescente interesse entre os praticantes de Yoga ocidentais na antiga ciência espiritual do Tantra, com frequência envolta em mistério porque sempre foi passada oralmente de mestre a discípulo. Os textos tântricos que existem foram geralmente escritos em sandhya bhása, ou “linguagem crepuscular” – instruções ocultas e metafóricas, para que não fossem mal utilizadas por praticantes indevidos. Todavia, nos últimos anos, mais e mais estudantes de Yoga estão começando a se dar conta de que Tantra não é o “Yoga do sexo”, e sim , como seu nome em sânscrito indica, “aquilo que libera pela expansão”. Essa ciência da elevação da kundalini, a energia cósmica situada na base da coluna, tem como meta um estado de inexpressível êxtase e unidade. Isso pode ser alcançado abrindo os sete ou centros de energia psíquica ao longo da coluna, e liberando a energia divina que está latente dentro de nós.

Muitas outras tradições ocultas têm descrito estes centros de energia sutil : os taoístas chineses, os alquimistas, e os místicos hebreus da Cabala. Mas foram os tântricos da Índia que desenvolveram a mais sofisticada ciência de purificação e controle desses centros, e de elevação da kundalini. E, como o artigo assinalou, cada vez mais ocidentais estão abraçando essa antiga ciência para transformar seu cotidiano numa bem-aventurada celebração. Contudo, ainda há muito mistério para ser desvelado em relação aos chakras. O que se ensina normalmente é que eles estão relacionados às glândulas endócrinas, nas suas respectivas regiões do corpo. Mas o que não é freqüentemente discutido são as tão chamadas “pétalas” dos chakras.

O QUE SÃO AS “PÉTALAS”?
Você já se perguntou, ao observar as ilustrações das flores de lótus dos chakras com suas várias pétalas, o que essas pétalas representam? Por que será que no primeirochakra na base da coluna a flor tem quatro pétalas, no segundo, seis, no terceiro, dez, e depois, doze, dezesseis, duas, e mil pétalas nos quatro chakras superiores?

O que aqueles antigos yogis tântricos descobriram, a partir de longas e concentradas introspecções em seus corpos energéticos, foi que cada uma dessas 50 “pétalas” (4 + 6 + 10 + 12 + 16 + 2 = 50) é um vórtice de energia psíquica, com sua cor e vibração sonora característica. Os yogis denominaram esses vibrantes sub-centros de vrttis, que literalmente significa “aquilo que gira”. Os insights desses yogis foram então codificados e sistematizados séculos antes de Cristo, na Índia, por um mestre realizado chamado Astavakra, que nasceu deformado – daí seu nome Asta + vakra ou “oito dobras”.

MISTÉRIOS DA MEDICINA CORPO-MENTE
Porém, a mais fascinante descoberta desses antigos sábios – e a mais importante para as nossas vidas práticas – foi que cada um desses 50 sub-centros dos chakras vibra em um certo padrão de freqüência mental. Todas as nossas emoções – esperança e medo, raiva e ódio, amor e orgulho – são geradas por emanações vibracionais desses vrttis. Os psicólogos atualmente debatem se temos quatro, sete, onze ou mais emoções básicas. Mas os tântricos, há milhares de anos, descobriram que temos cinqüenta meios de expressão mental, que vibram a partir dos sub-centros dos chakras.
Quando um vrtti é ativado, como uma mola solta fora do lugar, o chakra se torna desequilibrado, desfigurado. Esse padrão vibracional flui então através das dezenas de milhares de correntes de nervos sutis, ou nadis, em todo o corpo, perturbando o campo mental. A ativação desse vrtti também estimula ou inibe a secreção da glândula endócrina associada àquele chakra, causando uma super ou uma sub-secreção de hormônios. Isso então ativa uma determinada resposta emocional e física.
Essa descoberta dos mestres guarda a chave de muitos mistérios sobre a ligação entre psique e soma. Na literatura da “medicina corpo-mente” sempre se encontra sempre perguntas do tipo: “Porque o amor e a esperança estimulam o sistema imunológico? Qual é o misterioso “mecanismo” pelo qual a fé cura, e o ódio adoece”? Talvez as tradições espirituais do Oriente ajudem a ciência ocidental a emergir de seu paradigma mecanicista. Como diz o psicólogo transpessoal Stanislav Grof, “A riqueza do profundo conhecimento sobre a consciência humana, acumulada nesses sistemas orientais através de milênios, não foi ainda adequadamente explorada, compreendida e integrada pela ciência ocidental”.
Qual é o misterioso “mecanismo” pelo qual a fé cura, e o ódio adoece”? Talvez as tradições espirituais do Oriente ajudem a ciência ocidental a emergir de seu paradigma mecanicista.
Esses vrttis são lentes por meio das quais percebemos e vivenciamos o mundo – como amável ou irritadiço, inspirador ou amedrontador. Algumas vezes são paixões tão veementes que ameaçam nos esmagar; outras vezes são sentimentos ocultos tão sutis que raramente os notamos. Por exemplo, se o vrtti da “falta de autoconfiança”  (avishvasa em sânscrito) no segundo chakra for habitualmente super-estimulado, a pessoa desenvolverá complexo de inferioridade; se o vrtti de “ódio” (ghrnaa vrtti), no terceiro chakra, for super estimulado, a pessoa se sentirá cheia de hostilidade; e se ovrtti de “afeição” (mamata), no quarto chakra for super-estimulado, ela sentirá um cálido sentimento de compaixão.

O psicólogo Aaron Beck da Universidade da Pensilvânia chama essa sutil expressão dosvrttis de “pensamentos automáticos” – suposições fugazes de pano de fundo, que refletem nossas atitudes mais profundas e determinam todo o nosso comportamento. Ficamos incomodados com algo de manhã, e então permanecemos irritados por todo o dia, agindo asperamente sem razão para com as pessoas; mas, muitas vezes, completamente desatentos à nossa própria irritabilidade. Um indivíduo pode manifestar, excessivamente, uma certa combinação desses vrttis – por exemplo, medo (no terceiro chakra) e complexo de inferioridade (no segundo chakra). Outra pessoa pode ter outro svrttis superativos – por exemplo, otimismo (no quarto chakra) e altruísmo (no quinto chakra). Nossa personalidade é o somatório desses fluxos mentais que são expressos habitualmente. São as cinquenta “cores” emocionais na aquarela da nossa mente, a partir das quais selecionamos as tonalidades para pintar a tela da nossa personalidade. São as várias “notas” que emanamos para orquestrar a melodia das nossas vidas.
RAIVA MATA
Será que você conhece alguém da chamada “Personalidade do Tipo A”? Que fica facilmente com raiva mesmo diante de acontecimentos triviais – um carro lento à sua frente, um elevador demorado, crianças bagunceiras? Por anos os cardiologistas têm alertado que pessoas do Tipo A, com um “tipo permanente de raiva, hostilidade ou inveja”, têm um risco mais alto de morte prematura. Por quê? Uma das razões é que suas glândulas supra-renais secretam excessivas doses do hormônio do estresse, cortisol. Em experimentos conduzidos pelo Dr. Edward Suarez, da Universidade de Duke, nos EUA, as pessoas com alta pontuação de hostilidade produziram quarenta vezes mais cortisol do que aquelas mais tranquilas quando sujeitas às mesmas provocações. Esse aumento hormonal pode resultar em doença e morte. Com cada alarme supra-renal, a pressão sanguínea se eleva, o batimento cardíaco é perturbado, e o sistema imunológico suprimido. Pessoas hostis do Tipo A, de acordo com essas pesquisas, têm sete vezes mais chances de morrer antes dos cinqüenta anos do que as pessoas do Tipo B, aquelas mais “cabeça fria”, as do Tipo B.
Mas a razão pelo qual uma excessiva estimulação dos hormônios das supra-renais liga-se diretamente à hostilidade e à inveja ainda permanece um enigma para os pesquisadores. Talvez a antiga ciência de Tantra possa nos prover com algumas dicas. Quando os vrttis do terceiro chakra da hostilidade (ghrna), irritabilidade ou raiva (kasaya), e inveja (irsya) das pessoas do Tipo A são cronicamente super-estimulados, as glândulas supra-renais são ativadas para secretar desenfreadamente doses excessivas de cortisol. Essas pessoas se tornam então ainda mais reativas aos estímulos externos: qualquer coisa pode parecer uma ameaça e causar uma raivosa erupção. Para os Tipos A com os vrttis do terceiro chakra constantemente desequilibrados, a raiva mata.

O QUARTO CHAKRA – A CURA PELA ESPERANÇA
De todos os medicamentos, a esperança é de fato um dos mais poderosos. Em uma pesquisa da nova ciência de psico-neuro-imunologia, com 649 especialistas em câncer nos EUA, 90% concordaram que o fator mais significativo na cura de seus pacientes é a atitude de esperança e otimismo. Em mais de 400 curas espontâneas de câncer, envolvendo toda sorte de tratamentos – de jejum com suco de uvas à visitas ao santuário sagrado de Lourdes, na França – todas tinham somente um elemento em comum: a mudança para uma atitude mais esperançosa antes da remissão do tumor. Mas como funciona essa “fisiologia da esperança” funciona ainda é mistério para o meio médico.

Podemos compreender este fenômeno lembrando que um dos sub-vórtices psíquicos, localizado no Anahata chakra, é chamado asha ou esperança. Quando esse vrtti é mobilizado, ele estimula a glândula timo associada ao quarto chakra, o “regente da orquestra imunológica”. Alguns psicólogos já criaram uma ‘escala-E’ – ‘escala da Esperança’ – para testar o nível de otimismo nos pacientes. Verificaram que alqueles com maiores “notas” em otimismo tinham sistemas imunológicos mais fortes, e foram menos propensos a desenvolver câncer.
“A Força que guia as estrelas está me guiando também.”
Portanto, precisamos a todo custo, asseveram os yogis, cuidar para manter nosso ashavrtti, nosso otimismo, sempre vibrando no fundo do coração sutil. Disse Einstein que a pergunta mais importante que um ser humano pode fazer é, “Será o universo amigável?” Sentir que existe sempre uma Força benevolente no universo, guiando a minha vida a cada momento, mobiliza não somente coragem e tranqüilidade, mas também saúde em todo meu ser. Um dos tesouros mais preciosos da vida é a convição de que, em qualquer circunstância, por mais árdua que seja, eu nunca estou só ou desamparado. A Força que guia as estrelas está me guiando também.
PURIFICAÇÃO E CONTROLE DOS CHAKRAS
Há cerca de sete mil anos, mestres realizados – “exploradores intrépidos do interior”, como disse o visionário Willis Harman – têm formulado uma ciência sofisticada do corpo, mente e espírito. Eles desenvolveram não somente uma refinada compreensão da nossa anatomia sutil, mas também um vasto repertório de práticas para harmonizá-la. Nosso equilíbrio emocional depende não somente de uma regulada secreção das glândulas endócrinas, mas também da harmonia vibracional dos chakras, que são a fonte de todas as expressões psíquicas. Quando o fluxo vibratório dos sub-vórtices fica distorcido, ocorre desequilíbrio endócrino e distúrbio emocional. Quando as frequências do chakra estiverem em equilíbrio, seu formato e sua cor são claros e vibrantes, e sua expressão acústica afinada. As práticas psico-espirituais de Tantra atuam no nível dimensional mais elevado e sutil do indivíduo, para modular a ressonância do chakra e dos seus sub-centros até seu estado ideal. Essas técnicas superpõem as corretas frequências cromáticas e sônicas sobre as distorcidas vibrações dos chakras, equilibrando-as e, conseqüentemente, as glândulas endócrinas correspondentes. Desse modo, distúrbios mentais e complexos emocionais podem ser erradicados pela raíz, e permanentemente curados. E podemos atingir a meta última da busca espiritual: como o Patañjali disse, Yogaschitta vrtti nirodha – a cessação de todos os vrttisnum estado de unidade absoluta.

Como Daniel Goleman, autor do best-seller Inteligência Emocional enfatizou, na sociedade atual nossas emoções têm fugido perigosamente do nosso controle. Neste momento crítico da história humana, com a turbulência da hostilidade e do medo se alastrando dentro e fora de nós, precisamos equilibrar os vrttis que estão impedindo a paz social, e elevar nossa energia às frequências mais elevadas dos chakras superiores. A solução está em nossas mãos. Ou, para ser mais exata, nos mais profundos recessos do nosso ser.
Hari OM _/\_

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